quinta-feira, janeiro 04, 2007

PARDAIS




Se há coisa que 2007 já fez por mim foi tornar visível aquilo que, agora sei, sempre esteve presente mas não entendido. Falo do meu amor pelos pardais. Da profunda comoção que me assola sempre que vejo um pardal. Isto pode parecer um pouco tacky ou mesmo corny, eu sei, mas a realidade é que sempre que um pardal se atravessa no meu caminho o caminho já não é o mesmo. O som (o pardal está do outro lado da janela mas o assobio parece vir de dentro...; de quem?), o bater das asas, o saltitar (num nervoso que, se pararmos e atentarmos bem na situação, de nervoso tem pouco), a energia silenciosa e constante que emanam (fruto de uma espécie de sabedoria milenar que, sabe-se lá porquê, parecem deter), tudo isto combinado, ou não, sempre que surge traz consigo uma paz imensa que estou certo já experimentaram. A mim comove-me, emociona-me, excita-me.
Há uns dias atrás, então, foi notável. Alfragide, bem lá no cimo (junto ao moinho). Um frio de rachar lá fora, e eu e a Susana dentro do carro a fazer tempo. Um daqueles dias de Inverno em que o céu matinal está azul, azul, azul, o frio é mais que muito mas os raios de sol quase nos fazem lembrar da praia. Onde há sol está-se bem, onde não há gela-se. O sol batia de frente em nós, várias vezes magnificado pelo enorme vidro dianteiro do carro. No leitor de CDs Pajo cantava (pela enésima vez... num loop consentido) "Let It Be Me"... e o pardal pousou bem no cimo da cerca em frente a nós. A Unidade sentiu-se naquele momento. O Sol brilhou e aqueceu mais, o verde em volta respirou melhor, o som entrava e saía pelos poros sem restrições, o azul era dourado e eu sei que foi aquele pardal. Quando um pardal poisa, passa a existir um momento "antes de pardal" e um momento "depois de pardal"... O momento seguinte foi eu perceber isto que escrevo agora, aqui.
Vejo agora também a ligação entre o facto de ultimamente não parar de ouvir os Red Sparowes (ver post recente) e esta novidade de 2007. Esses "pardais" são de outra categoria mas poderiam encaixar na descrição... Aqui fica o "Let It Be Me" do Pajo para quem quiser reproduzir a experiência. É só esperar um dia invernal de sol, agarrar o leitor de mp3 e ir estacionar o carro em Alfragide, junto ao moinho... e esperar por ele.
Bom 2007!


A ilustração que aqui reproduzo é de uma senhora chamada Hellen Ward que escreveu e ilustrou um brilhante livro infantil chamado A Rainha das Aves (editado entre nós pela Caminho).

1 comentário:

aquelabruxa disse...

já tinha uma vez tentado deixar aqui um comentário, neste post, mas não consegui.
contava que também admiro os belos pardais, e que uma vez estava sentada num banquinho de pedra no castelo de são jorge e veio um pardal por-se a olhar para mim no banco à minha frente, e estivémos na conversa um bom bocado, ora chilreava ele, ora eu, foi envolvente. são pássaros espertos.