sábado, março 08, 2008

100.000 na rua...

... e os restantes? Como irão eles trabalhar na próxima segunda-feira? Como enfrentarão eles as salas de professores por essas escolas fora? Que dirão eles aos seus alunos? Como será ter um stôr de Química a espumar e um de Francês a dar tempos verbais? Por aqui pensa-se sobretudo nesses, nos que vão ter de trabalhar com a ministra (para responder a esta interrogação) e com o futuro.

Mas também se pensa aqui na desonestidade. Há muito tempo não assistia a tamanha desonestidade, a tamanha falta de senso, a tamanho disparate. É só assistir a meia dúzia de minutos de qualquer noticiário... É só prestar boa e honesta atenção aos argumentos, de um lado e de outro. É só ver e escolher. A maior preciosidade talvez tenha sido o professor (pasmem-se) que proferiu conjectura quando queria nitidamente dizer conjuntura. Bom, talvez fosse professor de trabalhos manuais, dirão alguns... É folclore, nada mais, mas não resisti. Mas não destrói o argumento. O de que de um lado só há raiva e barulho e que do outro há uma tentativa, um desejo, uma espécie de trabalho de mudança. É pouco e, sobretudo, pouco sério? Talvez seja. Mas o que querem, com os diabos, não é este o país que temos?*

Infelizmente, ao que parece, este país não passa de uma gigantesca repartição pública... mas, ao menos, ficou-se a saber quais os 100.000 que estão a mais... quais os 100.000 que não progredirão na carreira. É só esperar. Que desistam, que se reformem, que metam baixa. E como diz a ministra, uns escolhem o caminho mais fácil, outros o mais difícil. Por falar em caminho difícil, que Sócrates não se atreva a tirar o apoio à ministra. É o que se deseja por aqui.

E, já agora, neste momento em que a festa acabou, em que se contam os ganhos das rifas feitas durante a viagem para a capital, também se deseja um pouco mais de confiança. Na ministra, nos superiores, em si mesmos. Sobretudo confiança na certeza de tudo isto poder dar asneira, de erros saírem ao caminho. Confiança, pois, de que será possível resolvê-los. Só isto pode ter interesse na vida das pessoas. Mas se preferem ficar como estão...


* Já com o caso das casas do Sócrates andava tudo indignado com o fraco teor arquitectónico das mesmas, que eram isto, que eram aquilo, que eram maisons... mas então o homem não é um merdas? Um dia é um tretas, não presta, no outro dia tem de andar a fazer casas à la Siza? Decidam-se...

1 comentário:

Pedro Alvim disse...

De facto os portugueses não estão muito habituados a mudanças. Não estou nada dentro do assunto (nem quero estar) e estar informado pela televisão ou jornais não é lá grande coisa.
A única coisa que me parece é que este país precisa de educação porque, se Portugal não precisa, o resto do mundo precisa de portugueses educados.
De há alguns anos para cá, para além do blah blah partidário, parlamenteiro e político a educação tem sofrido uma ofensiva implacável.
Acho que era uma boa os portuguesinhos que aí vêm terem um nível de educação decente, com professores bem dispostos e dispostos a lidarem com o seu trabalho de uma forma despreocupada (no que respeita às suas perspectivas profissionais futuras), com escolas, equipamentos e... já agora.. alunos.
Nestas alturas costumo lembrar-me das palavras de Brecht, qualquer coisa como: "primeiro levaram os vizinhos de baixo, depois os vizinhos de cima, depois os vizinhos do lado e eu nunca liguei nenhuma. Quando me vieram buscar a mim, já era tarde.