quinta-feira, junho 12, 2008

O futebol manda, a gente obedece...

É tramado como o futebol {o viver do futebol, para ser mais correcto} mina tudo à volta, seca, drena, impede, atazana a vida mais real, mais palpável, aquela das sensações inadiáveis. Desde que começou o Euro2008, e sobretudo desde que este blog se vestiu de laranja {o folclore nunca se deu bem com a seriedade objectiva}, que se tem tornado virtualmente impossível, quase penoso, escrever sobre outro algo. E muito haveria...

Por exemplo, apeteceu-me já várias vezes escrever sobre a estranha sensação, infusora de um medo forasteiro, constrangedora da respiração mais elementar, que é a sensação que me invade de cada vez que cruzo, que passo, que torneio, que detecto uma {duas, três, mais} mancha de sangue na calçada portuguesa. Já vos aconteceu, decerto. A mim invade-me uma tristeza, uma angústia muito segura de si que me agarra não sei bem onde... O sangue alheio {criança, gorda, velho?}, sem nome {sem-abrigo?}, sem cara {nariz esmurrado?}, é-me difícil de encarar. O medo funciona assim, de resto. É pérfido. Baseia-se, sustenta-se, alimenta-se e fortalece-se da total e simples ignorãncia, suspeição e conjectura. Sem estes três ingredientes o medo não se move. Neste caso não é bem um medo-medo, mas antes um medo-tristeza. Um medo-dor. Mas é qualquer-coisa-medo...

Também já me apeteceu falar das prateleiras vazias de legumes, fruta e bens perecíveis {os frémitos que este termo provoca no(a)s jornalistas...} e das bombas de gasolina secas, sequinhas, como pequenos alentejos de bolso ali na cidade, esvaídos, à vista de todos. E de como isso não me incomodou quase nada, para além do facto de ter ido a um supermercado onde não teria ido antes {erradamente, diga-se} e de ter descoberto que, como comedor de rúcula, estarei sempre safo. Essa alface esquisita parece não entrar na dieta dos portugueses e haverá sempre um ou dois saquinhos à minha espera... Mas não é estranho ver supermercados vazios, em standby, suspensos, com relato televisivo de República Checa-Portugal como banda sonora, gritos e suspiros em contratempo, e não estranhar por aí além? E achar que é só um primeiro sopro do que ainda poderá vir aí? Tragédia? Redesenho. Ontem na TSF, num fórum bolístico, e a propósito das paralisações e consequentes falhas de distribuição, um tipo dizia que Portugal mais parecia o Brasil da Europa. Bom, eu não tenho problemas com isso {já tive, já tive...], o meu receio é que os portugueses não consigam vir a ser os brasileiros europeus...

E as bandeiras nacionais que agora fazem companhia às tabuletas das Remaxes da vida? Também já me apeteceu escrever sobre isso... Duetos miseráveis, parelhas de maltrapilhos. Vizinhos insuportáveis, é o que são! Tristes ruas as desta vida lisboeta...

Mas como a bola é ominipresente e omnipotente, acabo por escrever sobre os euros oriundos dos negócios escuros de leste que a partir de ontem parecem valer mais do que os euros dos papalvos lusitanos. Pois, parece que o homem se vai pirar a seguir ao Euro2008 para terras de Sua Majestade. Estou mortinho por vê-lo aguentar-se à brocha com aquela imprensa cocksucker {esta ele já deve saber dizer...} a morder-lhe as canelas a propósito de toda e qualquer decisão {ou não decisão} que o brasileiro fascista protagonizar. Só mesmo um russo novo-rico e ignorante e um clube pequeno como o Chelsea para acharem que isto vai dar bom resultado...

Sem comentários: