sexta-feira, agosto 22, 2008

Lacombe, Lucien

E há uns dias ainda mais atrás revi o Lacombe, Lucien {também de 1974}, de Louis Malle. Tinha-o visto há muito, muito, tempo e desta vez desfez-se a ideia de que não era um grande filme {para mim, claro está}. Não, antes pelo contrário, é um grande filme. Muito bom mesmo. Para além de ter sido o primeiro filme francês {esta atribuição é discutível, pelo que me apercebi} a abordar criticamente o papel da colaboração francesa durante a WWII, é um filme esteticamente muito bem conseguido. A paixão de Louis Malle pelos EUA é notória e neste caso ela topa-se na curiosa utilização da ambiência dos filmes noir de gangsters na abordagem ao tema, tão francês, tão campagne. É-me fácil perceber agora o quão difícil teria sido eu ter gostado deste filme então. Não é um filme linear {e como podia sê-lo, marcado que está pela ordem precisa do apelido primeiro que o nome?}, simples, directo. O ódio e a desumanidade habitam por ali, roçando-se pelas paredes, numa dança um tanto ou quanto estranha; num ambiente onírico, apsicanalisado q.b., assistimos a desvios, abusos e crimes. A intromissão, em vagas sucessivas e crescentes, por parte de Lucien, na vida doméstica da família judia e a estranha relação que este mantém com os três foragidos é particularmente bem conseguida {a fazer lembrar, a espaços, o fenomenal Gruppo di famiglia in un interno, curiosamente também ele de 1974...}. Uma belíssima (re)descoberta. O regresso de férias não está mal, não senhor...


O ódio que albergamos facilmente nos transforma em cães. Daí para a tortura e para a desumanização é um passo. O que nos vale é que a mudança, a alquimia dos sentidos e dos sentimentos, é sempre possível.

Sem comentários: