quinta-feira, março 04, 2010

Copinhos de leite...

Por razões profissionais tenho andado ultimamente às voltas com centenas de páginas de paleio sobre o 5 de Outubro e a Implantação da República. São cerca de 800 páginas escritas na primeira pessoa por alguns dos ilustres cidadãos, para não lhes chamar gandas'cromos, que nesses dias andaram aos tiros e à espadeirada pelas ruas da capital. Mais do que as intrigas, mais do que a bandalheira, sinceramente até mais do que a insistente pergunta «mas como é que estes tipos conseguiram alguma vez levar isto em diante e instaurar a dita República?!», o que mais me choca, no sentido de surpreender, o que mais me diz deste povo tonto e fracote é que, não um, não dois, não três, mas vários, vários mesmo, desses tipos, valorosos combatentes, a uns e dados momentos da contenda, achavam por bem, a fim de sossegar o espírito e o estômago, tragar uns copitos de... leite!


Aguardentes disto ou daquilo, vinho branco ou tinto, cerveja morna ou fria, traçados, rascantes, distilações caseiras, múltiplas opções poderiam ter regado as bocas sedentas daqueles combatentes. Mas... nada disso. A escolha fiel e segura era o leite. Decididamente, isto só faz lembrar, 100 anos depois, o notável «Come antes uma peça de fruta, que te faz melhor, rapaz».




É exigida uma rectificação. Afinal também houve lugar a libações. «Vim descendo para o acampamento, e pelo caminho reparei em diversos grupos de rapazolas que se entregavam a libações dentro das barracas, não se importando com os tiros que rebentavam por cima das nossas cabeças; entrei numa e confesso que não dei o tempo por mal empregado, pelo que gozei, chegando a rir com vontade dos chistes que ali dentro se diziam; dois rapazes, os tipos mais farsantes e excêntricos que em minha vida tenho encontrado, estavam por detrás do balcão dizendo chalaças e oferecendo vinho, sem exigirem dinheiro por ele. Tudo aquilo nos pertencia, podíamos fumar, comer e beber de graça.» Assim, sim.

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