terça-feira, maio 18, 2010

Cromados

Hoje, ao longo do dia, vários momentos houve em que me encontrei em pleno estado de cold turkey. Isto porque decidi, ontem, não comprar mais carteirinhas de cromos. Ontem os meus repetidos atingiram o mesmo número das minhas faltas. Pareceu-me pois o momento ideal para parar de dar massaroca à Panini e começar a apostar fortemente na troca. A troca é, de resto, aos meus olhos {e não estou sozinho nisto}, a essência de toda esta cena em redor das colecções de cromos. Mas a ida ao quiosque e toda a expectativa do «será que é desta que me sai o Rafael van der Vaart?» não são de menosprezar, claro está, e daí a ansiedade, a dificuldade do impulso contido, da repressão da recaída.

Mas a troca é o que me resta e é na troca que tenho de investir. E assim tem sido. Só hoje foram vários momentos. Depois do almoço telefonei para uma miúda que usara o fórum do Facebook para divulgar o seu telemóvel e a sua lista de repetidos. Atende-me um tipo. Diz-me que desligue que já me telefona, que assim não gasto dinheiro, que ele telefona do fixo lá do banco. Afinal é o pai da miúda que faz a colecção. Afinal é a miúda quem sabe mexer-se nesta coisa da net e das redes sociais, ele, o pai, só gasta mesmo é o dinheiro do patrão nos telefonemas para as trocas... E isto tudo com um sotaque do camandro. O tipo era, e estava, de Viseu. Na boa, desculpei-me, fica para a próxima. Isto de trocar cromos via Correios não é para mim... Talvez quando só me faltar apenas o Rafael van der Vaart... Ao fim da tarde desloquei-me ao meu local de eleição, o Jardim Infantil do Jardim da Parada. Ali, sim, estou à vontade. Os putos já me conhecem, abrem o olho quando os cumprimento, ficam logo excitados quando lhes pergunto «como vamos de repetidos?», organizam-se e fazem bicha para a cerimónia. LOL. Genial. Além do mais, sabem que sou generoso, pois sobra sempre um ou dois a mais para o lado deles... Aquilo é geralmente uma comoção, há pais que sorriem, outros que olham meio de lado, outros que nem dão conta do que se passa, mas hoje à tarde foi particularmente interessante, pois juntou-se à equação mais um elemento, de resto, bem bizarro. A certa altura aparece na jogada uma velhota, uma avó, óculos na ponta do nariz, com a lista e tudo, ao serviço do seu neto mais velho. Não deu para resistir e lá me sentei {por acaso até foi de pé...} com a senhora e trocámos uns quantos cromos. A mulher exultava. Só falava nas virtudes da troca, do contacto entre as pessoas, ria-se e perguntava-me se eu não concordava com ela, que estava a adorar tudo aquilo, «ai que giro, ai que engraçado», que tinha imensa pena de não ter mais repetidos pois eu tinha tantos que ela {perdão, o neto} não tinha ainda... entretanto, já os putos jogavam portableplaystation a um canto. Um fim de tarde muito bem passado, portanto. Nem me lembrei mais das carteiras, dentro da caixa, na prateleira, no quiosque, ao virar da esquina...

1 comentário:

aquelabruxa disse...

cromo!